Quando o que verdadeiramente necessitamos não se compra
Já sentiram aquela sensação de que falta qualquer coisa na vossa vida?
Que se tivessem aquele livro, que se fizessem aquela viagem, aquele curso, comprassem aquela aplicação, aquele telefone, aqueles sapatos, tudo ficaria melhor.
Já se perguntaram de onde vem esta sensação, que pode ser crónica ou pontual, mas que de vez em quando vos visita?
Que a resposta se encontra fora em vez de dentro?
E se a resposta estivesse na quantidade de energia vital que têm disponível, que é directamente proporcional à capacidade de terem mais clareza interna?
Mais energia significa que temos mais recursos internos, capacidade de olhar para dentro, para quem somos e quais são as nossas necessidades reais, e de distinguir necessidades supérfluas das essenciais.
Porque as necessidades supérfluas são nem mais nem menos que um pedido de ajuda, são uma medida precisa de que internamente não estamos nutridos e que essa é a prioridade. E enquanto essa não for a prioridade, esta guerra não acaba, este caos não cessa.
E enquanto esta guerra interna não acaba, fazem-se filas às portas dos supermercados reais e virtuais no Black Friday, o stress acumula à medida que o Natal se aproxima, aquela promoção com a viagem que promete mudar as nossas vidas na passagem de ano está a chegar ao fim.
Para na semana após o Black Friday a vida estar na mesma, para que no dia 26 de Dezembro aquele vazio volte, talvez mais forte, ou para depois da viagem de Ano Novo que prometia uma vida nova, afinal, não ter acontecido nada.
E ano após ano isto acontece.
E ano após ano a memória falha e esquece que no ano passado e nos anteriores já estivemos lá.
Para mais tarde ou mais cedo se concluir que aquilo de que necessitamos, verdadeiramente, não se pode comprar.
Este não é um percurso linear, nem com fórmulas feitas. Se este artigo tivesse uma solução única, estaria a mentir.
Mas existe pelo menos um ponto em comum, que é a capacidade que cada um de nós tem de, olhando para si, para a sua vida, perceber que:
- Podemos sempre parar
- Podemos sempre regular o que estamos a viver pela nossa fisiologia, pela respiração, por exemplo
- Podemos sempre, a partir daqui, decidir mais de acordo com o que é necessariamente vital para nós
E a questão é sempre: ah, mas isso custa-me tempo, energia e, em alguns casos, dinheiro.
Sim, é preciso tempo para respirar.
Sim, é preciso energia para investir.
Sim, pode ser necessário procurar ajuda profissional para nos ajudar a começar e a manter o que começamos.
E sim, é verdade. Mas a pergunta que pode ser feita não é "quanto me vai custar regular a minha vitalidade e integrar o autocuidado na minha vida?", mas sim "quanto me vai custar NÃO o fazer?".
Podemos sempre escolher e, em alguns casos, quanto mais cedo melhor.
E se em vez de seguir o ciclo artificial do consumo - Black Friday, Natal, Ano Novo - seguíssemos o ciclo natural das estações? O Outono convida-nos a recolher, a interiorizar, a nutrir as raízes antes do repouso do Inverno. É o momento certo para esta escolha.
Até para a semana.
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