Encontrar o Centro
Neste artigo, vou aprofundar o conceito de “centro” numa perspetiva tradicional e explicar como essa noção, aplicada através da prática de Chi Kung, da alimentação e do alinhamento com as estações, pode transformar o seu bem-estar físico e emocional.
O conceito de centro está subjacente a todas as formas de equilíbrio, tanto no corpo como na mente.
Ao compreender a importância deste eixo dinâmico, adquire ferramentas para responder de forma mais adaptativa aos desafios do dia a dia, fortalecer o sistema digestivo, potenciar a resposta imunitária e cultivar um estado de presença que favorece relações mais nutritivas consigo próprio e com o mundo.
No entanto, é comum encarar-se o centro como um ponto fixo ou uma abstração teórica, ignorando que ele se manifesta sobretudo através de experiências corporais subtis e ajustamentos contínuos.
Num mundo marcado pela pressa, pela dispersão da atenção e por múltiplas solicitações externas, perde-se a escuta sensível do corpo e a capacidade de autorregulação, tanto física como mental.
Mesmo a expressão: "Vou fazer isto porque o corpo está mesmo a pedir" não é uma acção genuína e fiável, porque o corpo em si pode estar em desequilíbrio e com as suas necessidades alteradas.
Procuram-se soluções rápidas, na ânsia de alcançar equilíbrio: soluções externas para desequilíbrios internos — dicas, truques, mezinhas, fórmulas, protocolos — esquecendo-se de que o verdadeiro equilíbrio nasce do interior e é a partir daí que deve ser gerado, não através do exterior ou de alguma solução milagrosa que possa surgir.
Por exemplo: alguém procura uma “dieta perfeita” esperando soluções milagrosas, mas continua desconectado das necessidades reais do seu corpo — negligenciando sinais de desconforto ou tensão.
É como tentar navegar um barco apenas com mapas alheios, sem olhar para as correntes e ventos presentes no momento.
Outros sintomas passam por uma desconexão entre vontade e acção.
Quer-se parar de comer açúcar, mas continua-se a comprar alimentos com este ingrediente ou a comer aquela sobremesa que se jura a pés juntos que será a última deste mês.
Esta alimentação dissociada das necessidades reais leva a desequilíbrios digestivos, inflamação crónica e enfraquecimento da resposta imunitária.
O caos instala-se quando, em desespero, se escolhem dietas ou comportamentos restritivos que acabam por gerar ainda mais frustração ou desconforto.
Micro-Regulações – O Poder dos Pequenos Ajustes
O equilíbrio e o centro não se conquistam num só gesto grandioso; são construídos por pequenos ajustes diários: corrigir a postura ao sentar-se, respirar de forma calma e pausada antes de responder num diálogo difícil ou ajustar as escolhas alimentares conforme o clima. Gradualmente, até um pequeno momento de reconexão com as suas verdadeiras necessidades conta.
A prática do Chi Kung Terapêutico assenta no princípio de que, sem consciência clara do próprio centro — físico e mental — não há verdadeira regulação da vitalidade mais profunda.
Esta ligação é essencial, pois é comum praticar exercícios físicos ou respiratórios sem ligação à consciência interna do centro. Embora tenham utilidade, podem facilmente reduzir-se a meros gestos repetitivos, tornando-se apenas mais uma tarefa entre tantas outras do dia a dia.
Se o movimento pode ser valioso para a compreensão do centro, a quietude é fundamental para que este se estabilize e traga clareza física e emocional.
Imagine um copo com sedimentos e água: quando agitado, fica turvo. No entanto, quando deixamos o copo em repouso, o sedimento assenta no fundo, revelando uma água clara — tal como a mente quando paramos, desconectamos e damos tempo ao que turva a nossa visão para assentar. Desta quietude surge mais clareza nos próximos passos.
Fica a proposta para esta semana: ao longo do dia, em momentos em que sente a “água” a agitar-se — antes de cada refeição, enquanto espera por alguém ou pelo autocarro, ou sempre que surgir a tentação de pegar no telefone (que por vezes só traz mais agitação) — traga a consciência à sua respiração e respire de forma lenta, suave e profunda três vezes.
Pergunte:
“O que posso ajustar agora — na minha postura, alimentação ou comunicação — para regressar ao meu centro?”
Cada pequena escolha faz diferença; cada micro-regulação aproxima-o da saúde integral.
Este é um convite para se reconectar com os ritmos naturais do corpo e da natureza, aproximando-se de um estado mais verdadeiro e pleno, que transcende o simples conceito de ausência de doença.
Obrigado por escolher Regenerar conosco.
E até para a semana.
Lourenço de Azevedo
Em agenda
Estão disponíveis as últimas duas vagas para o Caminho de Santiago de Compostela, Caminho Inglês.
De 28 de setembro a 3 de outubro.
Esta é a quarta edição comigo, levando o Chi Kung Terapêutico ao caminho, juntamente com Filipe Maia — psicólogo que leva na mochila a Psicologia Positiva.
Se tem questões utilize a ficha de contacto da Academia Regenerar.
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